Lembrando-me de uma conversa que tive com uma "colega de estrada" relactivamente à minha entrevista na SIC de dia 9 de Março, senti uma urgência em escrever para explicar aqui uma coisinha ou duas, não em relação à entrevista, mas em relação a algumas das minhas formas de sentir e pensar.
Há uma diferença ENORME entre nascer deficiente e ficar deficiente em adulto, por um motivo qualquer. Quem nasce deficiente cresce com a sua realidade, protegido ou não pela sua rede familiar, aprende a ver o mundo da sua maneira, não conhece nenhuma outra realidade...E todos os programas ou quase todos da Secretaria de Estado da Reabilitação, ou de qualquer site virado para a deficiência tende sempre a priviligear esse "tipo" de deficientes...desculpem a crueza...
Mas os outros, aqueles que como eu ficaram com o mundo do avesso, que tinham sonhos, famílias, anseios, e que de um momento para o outro foi como que se passasse um tsunami pelas nossas vidas, pouco apoio e informação têm. Quem não tem a "sorte" de como eu não ir parar a Alcoitão, que não faz terapia ocupacional, que ninguém lhe explica que novo mundo é este, sente-se terrivelmente perdido. E quando os apoios dependem das seguradoras, porque os acidentes e as incapacidades foram provocadas por terceiros, ainda mais perdidos nos sentimos. E se moram, como eu, fora dos grandes centros populacionais, pior ainda.
Eu fui bater à porta da Segurança Social quando já tinha chegado ao fundo, porque fui contribuinte durante quase 20 anos, e responderam-me que infelizmente não me podiam ajudar porque a incapacidade tinha sído provocada por terceiros, e a seguradora é que tinha que assumir a prestação de reforma e as ajudas...
Eu só perguntei como seria isso possível, se para a seguradora me pagar uma prestação mensal tive que interpor um processo em tribunal e uma providência cautelar para que o processo não caducasse e um segundo processo para ter direito a indmenização?
E a senhora, de lágrimas nos olhos, respondeu-me que não me podia ajudar, que eu teria de viver do auxílio da família ou de outros...
Não me estou a vitimizar...nunca me vitimizei...Se coloquei aqui alguns desabafos foi por não poder pagar a um psicólogo para o fazer e a escrita para mim é catársica...
Mas não me venham dizer com paternalismos que eu não saio de casa porque não quero, ou que muitos deficientes não o fazem...Quando me explicarem como sem termos carros adaptados, casas adaptadas, ajuda domiciliária, apoio psicológico, podemos ser iguais aos deficientes que assim nascem, eu perceberei.
Até lá, continuo a achar que as diferenças são muitas e não servem a inclusão.
Olá, Manuela,
ResponderEliminarPois compreendo toda a revolta sentida por facto de não haver respostas sociais que se adeque ás necessidades das vitimas de acidentes de viação.
Contudo o 1º paragrafo é de total desconhecimento da realidade das deficiencias cogenitas e sobretudo da sua reabilitação e daria "pano para mangas" essa conversa.
Peço só atenção a certas afirmações que podem induzir em erro os leitores do blog. Susana Pinto
N, Susana, eu conheço muito bem a realidade das doenças congénitas até porque tenho um primo surdocego, que tem sído o meu apoi, assim como trabalhei com crianças com várias deficiências e conheço as realidades das CERCI's...e se ler bem, eu não digo que é fácil, inclusivamente refiro que crescem OU NÃO com apoio, seja ele familiar ou social,sendo no entanto inegável que a realidade única que conhecem é a que é condicionada pela deficiência, não conhecem outra...e foi isto que eu quiz dizer...e desculpe, mas falo muito com "amigos de estrada" uns com paralisias cerebrais , outros invisuais, outros surdos, todos estes congénitos, mas falo e contacto muito com deficientes vítimas de acidentes ou de doenças degenerativas...e essa realidade quer-me parecer que é a Susana que tem um imenso desconhecimento dela...realmente dava panos para mangas...mas leia todos os projectos, leis e decretos leis relaccionados com a Secretaria de estado da Reabilitação...não induzo ninguém em erro. Pesquiso, falo e oiço...e transmito aquilo que alguns não sabem como o fazer...eu sou uma gota de água no oceano. Manuela Ralha
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