Isto é tipo Terminator...I'll be back, disse eu, ora aqui estou.
Falei da primeira grande anedota depois do meu acidente, conto-vos agora a segunda...não falando das tristes gargalhadas menores no entretanto.
Após o épico desfecho da minha passagem pelos hospitais, vi-me desamparada e sem solução à vista. Ora eu estava algaliada, não me sentava, e o que iria fazer? A família ideias não tinha...bom, resolvi que o melhor seria o meu marido procurar um fisioterapeuta que fizesse domicílio.
E ele assim fez. Mas eu não tinha meios em casa.
Entretanto "lembrei-me" da algália, até porque o tubo não tinha lá muito bem aspecto e a urina tinha sangue...solicitei os serviços dos Cuidados Continuados de Saúde, grupo a que eu estive na génese, inclusivé fui a imensas reuniões de trabalho e conferências, mas isso agora não interessa nada, e foram eles que me mudaram a algália...
Não podia de facto continuar assim.
Da seguradora nem pio...
Lá pedi eu emprestada uma cadeira de rodas ao Centro de Saúde, pois precisava de começar a fazer fisioterapia...
Mas a novela continuava, porque eu não tinha em minha posse qualquer elemento complementar de diagnóstico.
Bom, resumindo, comecei sozinha a aprender a sentar-me, passei para a fisioterapia, tive que marcar uma consulta privada de urologia porque começava a ser alarmante a situação... e da seguradora nada.
Até que finalmente, quase 3 meses após o acidente fui chamada para uma consulta de ortopedia.
"Ortopedia?" pensei eu...mau, voltou a novela...
Andei enrolada em Ortopedia, até fui a neurocirurgia, mas respostas nada... até que , finalmente, 5 meses depois da 1ª consulta percebi porquê.
Passo a descrever a situação...
Consulta de ortopedia. Médico novo. Hospital privado de Ortopedia de Lisboa.
"Boa tarde". " Boa tarde Doutor".
"Então, estive aqui a estudar o seu ficheiro, e a ler as informações que vieram de S. José e percebi que tem aqui uma coisinha para mim..."
" Para si?" " sim, temos que marcar a cirurgia"...
"Cirurgia'" Eu cada vez mais preocupada , estupefacta até, o meu marido a olhar para mim...
"Sim, segundo o relatório de S. José está na altura de remover os parafusos..."
" Parafusos????? Que parafusos? Ó doutor, eu sei que bato mal, mas deixe-me os parafusos que ainda me restam.." dizia eu ironicamente com um enorme sorriso...
" Mau, mas não tem parafusos na perna?"
" Na perna? Parafusos?"
"Sim , tenho aqui um relatório de uma cirurgia com o seu nome a uma fractura exposta da tíbia"
" MINHA?! Desculpe, só pode ser brincadeira...tem um relatório com o meu nome, vindo de S. José , de uma cirurgia a uma fractura exposta da TÍBIA? mas eu nuca fracturei a tíbia nem osso nenhum no acidente...eu tenho uma lesão medular..."
(nesta altura já tinha feito uma série de exames privados, onde gastei o que tinha e não tinha, para saber o que se passava...)
" Desculpe, mas o relatório que está agrafado à 1ª página do seu processo à 5 meses e que veio de S.José diz que foi internada, tendo-lhe sido diagnosticada uma fractura exposta de tíbia e um traumatismo craniano"...
Pronto, aqui eu já me rebolava a rir, com o meu marido a olhar para mim e para o médico, e o médico muito parvo a olhar para mim...
" Doutor, desculpe, mas como poderá verificar se eu me despir, eu não possuo nenhuma, ouviu bem, nenhuma cicratiz de cirurgia, nem nunca tive, bom se calhar até tive, porque me doi imenso a cabeça e estou desmemoriada, mas nunca fiz nenhum exame à cabeça que permitisse um diagnóstico de traumatismo craniano..."
"O QUÊ????!!! Quer dizer que a Manuela já passou por 5 ou 6 colegas meus e nenhum viu o erro?"
" Não..., respondi eu," embora agora perceba a falta de respostas e os ortopedistas..."
E aqui ele desatou aos berros, literalmente aos gritos, a chamar o auxiliar, a exigir respostas, a chamar nomes aos colegas...
" Olhe, eu peço desculpa...""O doutor não tem nada que pedir desculpa...""Estou tão envergonhado""Ó doutor, por amor de Deus, o doutor não tem a culpa"
"Do que precisa? Consulta de urologia, de neurologia, fisioterapia, o que precisa? Eu passo-lhe tudo, vamos dar-lhe tudo e mais alguma coisa..."
" Ó doutor, não faz mal...""faz, faz, estes gajos vão ver..."
" Bom, dizia eu, Urologia dava jeito porque assim não pagava a consulta, e como deriva do acidente o problema..."
"É já! E Medicina Interna, e neurologia, e neurocirurgia..."
"Ó doutor, eu necessito de fazer um exame de urologia, mas neste quadro até tenho medo que me diagnostiquem um CANCRO NA PRÓSTATA" e ria-me desbragadamente...
" Mas as mulheres não têm próstata..."
"PRECISAMENTE!"
E foi mais uma anedota em todo este processo...e mais uma vez garanto que foi o relato fiel dos acontecimentos...
É inacreditável!
ResponderEliminarEu na altura em que postaste, contei esta história ao Luís, mas não sei porque, este fim-de-semana, este tema veio novamente à mesa (de minha casa, em família) e tive que vir aqui, porque os pormenores inacreditáveis são tantos que eu tive medo de estar a inventar.
Que bem vai a saúde em Portugal, meu Deus!!
Nem sei se te deva perguntar, existe parte III?
beijinhos
Olinda, presumo q tenhas lído a parte 1...e ainda n tive coragem de escrever sobre a parte 3, q é ainda mais assustadora...
ResponderEliminarOlá querida amiga
ResponderEliminarEntrei neste blog quase por mero acaso, saio daqui completamente doido com o que li, e levo daqui uma coragem e uma lição de vida que pensei não ser possivel, vou ficar um pouco mais para ler estes testemunhos a que carinhosamente chamou de anedotas...
Vou seguir o seu blog para não a perder de vista, certo que voltaremos a falar.
Tudo de bom
António Gallobar
Realço o tom engraçado do texto, embora a situação narrada seja lamentável. Neste país é terrívelmente perigoso ficar doente.
ResponderEliminarUm beijo
Deus do Céu! Entrei através do Antonio Gallobar e ainda bem que você tem humor ainda para continuar lutando!
ResponderEliminarMesmo porque, a vida é sempre uma luta.
Mas... Poxa! Eles tinham qeu complicar tanto a sua vida?!
Cheguei até aqui pelo Gallobar e vejo que és corajosa e que não é apenas o Brasil com problemas de saúde.beijos,parabéns pelo blog.chica
ResponderEliminarAcredito no relato fiel.
ResponderEliminarSabe o que penso? Antigamente havia o clínico geral e ele diagnosticava sem exames, até porque não havia a parafernália tecnológica de hoje .
Os médicos foram se especializando e tem o médico da mão esquerda,o da mão direita, e por aí vai e isso acontencendo no mesmo tempo em que eles, os doutores, se asseguravam cada dia mais em tecnologia.
Não vamos mais ao médico, vamos aos exames...
Daí a sair um diagnóstico confiável, é outra coisa.
Cada vez que sei que meus netos ou filhos vão ao médico, rezo prá o Arcanjo Raphael, protetor da medicina.
Ou prá São Cosme e São Damião, que foram médicos na Idade Média ou antes...
No Brasil, temos os curandeiros, os pais de santo, temos uma gama de coisas que nos remetem a alternativas que, sendo o caso leve, resolve.
Boa sorte e foi um prazer lê-la.