quarta-feira, 12 de junho de 2013

Por Rui Machado: O auto-conceito, deficiência e inclusão


O auto-conceito pode ser definido como a imagem do que se pensa ser, se pode ser e conseguir, do que se idealiza ser e do que os outros pensam da pessoa (Burns, 1986). Este conceito vai-se desenvolvendo e modificando ao longo do tempo (e.g., Hattie, 1992; Manjarrez & Nava, 2002).
Por sua vez, o suporte social é entendido como a existência de pessoas em quem se confia, que amam a pessoa, se preocupam com ela e a valorizam (Sarason, Levine, Basham, & Sarason, 1983). Tem sido referida a importância do suporte social, designadamente dos pais, dos
pares, dos professores e da comunidade em geral para a construção de um auto-conceito positivo (Pekrun, 1990).

Estes conceitos são aplicáveis a todos os que andam, ouvem e vêem. Mas também são aplicáveis àqueles que não andam, não ouvem e não vêem. Neste último grupo estes conceitos devem merecer uma especial atenção já que são crianças, jovens e adultos em desvantagem ou prejuízo físico-funcional.

Sendo o suporte social um ótimo preditor de um auto-conceito positivo surge um problema que urge ser compreendido e para o qual se devem encontrar soluções, para um benefício que será global e universal. Este benefício global é entendido à luz da Teoria dos Sistemas de Bertalanffy, onde a escola se constitui como sistema e como tal deve ser encarado como um conjunto de elementos interdependentes e interagentes; um grupo de unidades combinadas que formam um todo organizado e cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente.

O problema a que me refiro, como possivelmente já perceberam, prende-se com a forma como o meio envolvente dos jovens com deficiência se constitui como efectivamente potenciador e assegurador de um suporte social satisfatório. Fernando Fontes no seu estudo “Pessoas com deficiência e políticas sociais em Portugal: Da caridade à cidadania social" de 2009 alerta-nos para o facto de “As pessoas com deficiência são, desta forma, lidas como seres inactivos, dependentes e passivos, cuja única solução passa pela sua adaptação ao meio ‘deficientizador’ que as rodeia, isto é, a um meio que não considera as suas necessidades e que desta forma cria barreiras à sua participação na sociedade. Contrariamente ao modelo médico que situa a deficiência no indivíduo, o modelo social vem afirmar a deficiência como exterior ao indivíduo, algo socialmente criado, que oprime e exclui as pessoas com deficiência.”
Como é que um meio que oprime e exclui pode ser facilitador de um suporte social gerador de um auto-conceito positivo? Difícil ou pelo menos complicado...
Há que então introduzir mudanças no sistema escolar para se optimizar o seu funcionamento (caminho que já está ser trilhado lentamente quer em termos políticos, quer em termos de “mentalidades”). Conceito fundamental aqui: INCLUSÃO. Que é diferente de exclusão, segregação e até de integração.

Ao longo do tempo houve evoluções na forma como o jovem com deficiência era incluído no seu meio. Da Exclusão passou-se à Segregação e depois à Integração. Actualmente vigora o modelo inclusivo, ou pelo menos é desejável que seja implementado por todos os agentes escolares. No modelo Inclusivo acredita-se que todos têm direito de participar ativamente da sociedade. Como ideologia, a inclusão vem para quebrar barreiras cristalizadas em torno de grupos estigmatizados.
Este modelo inclusivo pretende assim oferecer a todos as mesmas oportunidades e ferramentas de usufruir de um suporte social potenciador de um auto conceito positivo que beneficiará todo o contexto escolar.

Rui Machado

Sem comentários:

Enviar um comentário