quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Nostalgia...

Nostalgia...

Tenho saudades de mim. Tenho saudades de sentir a areia nos pés, de correr selvagem e livre, de saltar de alegria... Tenho saudades da erva molhada, quando descalça a pisava pela manhã... Tenho saudades de andar na rua, lado a lado, de mão dada... Tenho saudades de dançar...Ah, como tenho saudades de dançar como uma louca, sentindo o suor a correr... Não bebi. Era manhã, e eu não bebia de manhã. Aliás, quase nunca bebia. E era de manhã. Aquela estrada, onde brilhava o sol, precisamente naquela manhã, por onde tantas vezes passei, muitas das quais sem me aperceber do que me rodeava, estava igual a tantas outras manhãs. A música suave tocava no rádio do carro. Suave, sem estridências nem alarmes, mas suave como aquela manhã de Primavera, calma e serena. Fila de trânsito à frente. Há sempre uma fila de trânsito à nossa frente. Mas era uma manhã calma, e com calma parei, à distância dos outros carros, serena, tranquila, quase feliz. E a música tocava suave e eu cantarolava. E respirando fundo, tendo todo o tempo do mundo, puxei o travão de mão. Sim, para quê manter a perna em pressão, quando a manhã estava tão calma e serena e o dia se avizinhava tão pleno de realizações e a fila de trânsito nunca mais andava? E um bébé pequeno mais à frente, na sua cadeirinha sentado, no carro de seus pais, bem lá á frente, porque não quis incomodar e invadir a pacatez daquela manhã, parando o meu carro tão perto do seu. Subitamente o barulho! Um barulho arrepiante, ensurdecedor, assustador, fatal... Um chiar de pneus que tentam aderir e violar uma estrada serena, que irrompe na perfeição da minha contemplação... E eu soube. Soube que nada mais havia a fazer. Naqueles segundos de impotência, não vi a vida a passar diante dos meus olhos, nem flashes dos bons e maus momentos, nem o rosto dos meus filhos... Naqueles míseros segundos eu só vi o bébé que estava á minha frente e fechei os olhos, agarrando-me ao volante na frágil e ténue esperança que o barulho parasse, que desaparecesse... E foi assim que ela invadiu a minha segurança, a minha vida, o meu mundo! Ela, a fonte do ruído, do barulho ensurdecedor, do desespero... Ela, uma carroçaria desajeitada e grande demais para tamanha velocidade, numa manhã tão serena... Não bebi. Nunca bebo de manhã. Raramente bebo. E um dia que seria pleno de trabalho, de realizações, de serenidade, tornou-se simultâneamente o último e o primeiro dia do resto da minha vida... Nunca mais senti a plenitude de um dia cheio de trabalho, do trabalho de que se gosta, que se faz com prazer. Nunca mais voltei a caminhar na praia, a pisar descalça a erva molhada pela manhã, a dançar livremente... Nunca mais fui independente e livre! Naquela manhã cortaram-me as asas e já não consigo voar. E tenho saudades... Tenho saudades de MIM!! Manuela Ralha

3 comentários:

  1. Por muitos filmes que tenha visto, por muito descritiva que seja a tua narração, por muito fértil que seja a minha imaginação...por muito que me esforce, não consigo imaginar o teu desespero naquela hora, nem o teu estado de espírito actualmente.
    Penso muitas vezes, desde que nos conhecemos, se um dia tal me acontecesse...não consigo visualizar...
    Mas compreendo quando dizes que tens saudades de ti, de como era a tua vida, das sensações que não mais vais voltar a sentir. Sinto uma saudade parecida, daquela pessoa que um dia fui e que nunca mais vou voltar a ser.
    Mas isso não é nada quando comparado com a tua vivência.
    Nada posso fazer para te aliviar essa dôr. Apenas poderei sentar-me ao teu lado e acompanhar-te no teu lamento. Talvez assim consiga aliviar um pouco a carga...quem sabe...assim é o meu desejo.
    Para ti, que és uma mulher de força, o meu muito obrigada por fazeres parte da minha vivência.
    Beijinho

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  2. amiga,compreendo tua dor, pois tambbem sinto na pele a minha propria dor. No entanto ergue a cabeça como sempre o fizeste...segue em frente... VIVE. Podes ter morrido interiormente, mas continuas viva e podes sempre contar com a minha ja velhinha amizade.
    adoro-te
    sempre te adorei...
    Admiro em ti toda a tua força e coragem e quando olho tua foto me da uma força incrivel de viver.
    nunca te esqueço.
    mil beijinhos
    Ah, temos de combinar uma tarde para estarmos juntas.

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  3. Olá, Manela...
    Conheço-te por acaso. Por uma amiga em comum, que ambas gostamos imenso!
    Quando te vi, reconheci-te de imediato! Por seres amiga no face, disse: A Manuela...
    Sóe depois reparei, que vinhas de "rodinhas baixas" e pensei para mim própria: não sabia que a Manela tinha uma deficiência. Mas, o que me interessava isso? A ti muito, a mim, só queria te conhecer e ser feliz a teu LADO!
    Força MULHER...
    Beijinhos Voadores

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