quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vou abrir mais uma vez o meu coração. Hoje não estou bem. Nem todos os dias são dias.
Mas hoje de facto não é um bom dia. Até já caí... Por acaso é coisa que me acontece muitas vezes, mas hoje, para chatear, caí. Foi uma estupidez...Estiquei-me para chegar a um sítio, fiz pressão na ponta da cadeira e ela virou-se... Sou mesmo loira...então esquecí-me das leis da Física? Pois foi, olha, paciência...A minha cervical é que pagou, levou com a cadeira de rodas em cima...
Para me irritar ainda mais! devia ter juízo, estou farta de o dizer a mim própria, mas é tão complicado fazer as coisas sentada! E eu estou tão cansada de ter de as fazer...
Mas adiante, não sou rica, não tenho criados, tenho 2 filhos e 2 enteados e um marido que se esmifra para conseguir trazer algum dinheiro para casa...
Mas hoje não estou bem, talvez por isso tenha alterado o esquema da minha página de blog. UM FAROL. Isso é que eu preciso. De um farol que me guie nesta noite escura que atravesso. Não me levem a mal, eu até gosto da noite, mas tão prolongada...
Quem não imagina o que é a vida numa cadeira de rodas, dir-me-á, como tantos o fazem que eu tenho quem tome conta de mim e me ajude...
AHAHAH, como estão iludidos.
Mas nem é por isso que não estou bem, eu já estou habituada à solidão, ao silêncio, são-me tão queridos como o quente do útero materno...por eles estou protegida.
A falta de companhia, que não seja a dos filhos também não é. Isso é o dia-a-dia.
Então o qu me faz estar tão triste e sorumbática?
A impotência.
Não a física, que nesse aspecto felizmente não tenho problemas, apesar de fazer muita confusão a muita gente que os paraplégicos tenham sexo.
As mulheres paraplégicas que eu conheço têm-no, e até são mães.
Mas a impotência de estar presa, de não ter controle nas coisas, de não poder resolver os assuntos pendentes como o fazia...
É tão chato estar sempre a perguntar ao marido" Olha, já resolveste o assunto dos documentos do carro?" ( Já lá vão quase 5 anos)
E estar à espera de notícias do advogado sobre o processo com o seguro...
E não ter emprego nem estar reformada...
E não ter carro, nem cadeira electrica para sair de casa...
E estar farta destes esfincters que não controlo, desta diarreia crónica, destas dores permanentes, deste mal-estar geral...
Vendo bem, isto são coisas de todos os dias, mas hoje particularmente chateiam-me.
Se eu fosse igual a tantos outros, ia-me deitar e punha-me a dormir. Assim como assim, não posso andar...
Mas eu não. Apesar de tudo insisto na parvoíce de continuar em frente. Há pessoas que dependem de mim.
E eu ?

1 comentário:

  1. E desde quando querer seguir em frente é parvoíce???
    Então, vamos ser parvas as duas, boa?
    Tu daí e eu daqui...
    Há dias e dias...nos meus dias "menos dias" fico quase tonta de tanto dizer disparates e rir deles...
    Há uns anos atrás até bebia uns copitos para ajudar a que o disparate saísse mais apurado...para me rir ainda mais.
    De nada valeu.
    Caí então na parvoíce de achar que estava a ser egoista, que tinha mais era que me preocupar com os outros... Que parvoíce, mesmo!
    Não creias que essa tua "parvoíce" o é. Todos temos as nossas carências e todos temos um estúpido pudor de dizer a alguém: preciso de um mimo... Seja de que natureza fôr...
    E hoje estarás mais sensível, ou até não, sei lá...
    Mesmo que não seja o caso, eu deixo-te um miminho. Pode ser que alivie um pouquinho só...
    Beijinhos

    ResponderEliminar