domingo, 23 de setembro de 2012

As barreiras sociais e as outras...


     
Muitas vezes as pessoas ditas "normais" pensam e acham que apenas as barreiras físicas são impeditivas para os deficientes. Infelizmente essa não é a verdade.
Falemos então das barreiras para as quais não há legislação aplicável. Quais são? As barreiras sociais.
Por barreiras sociais entendo as barreiras psicológicas, aquelas que descriminam, as que humilham, as que silenciam. As barreiras criadas pela discriminação. As barreiras emocionais. As que sentimos cada vez que somos olhados de lado, cada vez que nos humilham porque somos "diferentes".
Ou cada vez que nos tratam como "coitadinhos".
Ou cada vez que somos gozados na rua. Dizia um amigo que sofre de uma incapacidade visual que é alvo de chacota por parte de alguns jovens cada vez que vai na rua. Este particular comportamento também acontece com os idosos, infelizmente. Não há uma educação cultural que permita encarar o outro como um ser igual. É ignóbil. Mas infelizmente não são só os jovens que o fazem.
O mesmo acontece nos supermercados em que existe uma caixa própria para deficientes, e no caso dos deficientes motores é essencial, não porque permite "passar à frente" mas porque é a única que tem largura suficiente para a cadeira de rodas passar. E o que acontece? Está sempre ocupada ou fechada. E no meu caso, sempre que me perguntam porque não me dirijo à caixa prioritária, respondo sempre o mesmo, já fui suficientemente humilhada por clientes"normais" que ficam demasiado incomodados por serem chamados à atenção para querer passar por isso mais uma vez.
E as casas de banho? As de deficientes ou estão fechadas ou normalmente ocupadas por quem não necessita delas. E para nós que não controlamos as necessidades fisiológicas basta por vezes um instante para que fiquemos num estado em que nos sentimos de facto humilhados e vencidos...
As filas nas entidades publicas, os balcões altos, a inacessibilidade às prateleiras dos supermercados, a falta de civismo por parte do publico, todos estes factores acabam por ser desmotivadores para quem de facto tem dificuldades acrescidas na vivência do dia-a-dia.
E o que dizer ao isolamento social, ao estigma, à solidão?
Cada vez que não se adapta um edifício publico, cada vez que se estaciona em cima de um passeio ou no lugar destinado às pessoas com deficiência, cada vez que se impede a colocação de um elevador, uma plataforma elevatória ou uma rampa num edifício de habitação, cada vez que se “planta” um pino de cimento ou de metal no meio de um passeio, ou se coloca indiscriminadamente o mobiliário urbano estão a condenar um ser humano a uma prisão injusta e discriminatória, apenas e só porque este cidadão é portador de uma incapacidade ou de uma deficiência.
A não existência de transportes publicos adaptados criam uma barreira intransponível para quem tem mobilidade reduzida.
E quem vive no interior do pais, ou nas zonas suburbanas das grandes cidades, nas aldeias, nos lugares, sente ainda mais o peso do isolamento e da clausura.
Eu senti todas estas dificuldades. Todos os dias as sinto. Para além de ter de ultrapassar a dor da perda de mobilidade, tive que reaprender a viver numa sociedade e num mundo que não está preparado para quem é diferente. E todos os dias “salto” barreiras e supero limites. Como todos as outras pessoas diferentes.
Manuela Ralha

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