Muitas vezes as pessoas ditas "normais" pensam e acham que apenas
as barreiras físicas são impeditivas para os deficientes. Infelizmente essa não
é a verdade.
Falemos então das barreiras para as quais não há legislação aplicável. Quais
são? As barreiras sociais.
Por barreiras sociais entendo as barreiras psicológicas, aquelas
que descriminam, as que humilham, as que silenciam. As barreiras
criadas pela discriminação. As barreiras emocionais. As que sentimos cada vez
que somos olhados de lado, cada vez que nos humilham porque somos
"diferentes".
Ou cada vez que nos tratam como "coitadinhos".
Ou cada vez que somos gozados na rua. Dizia um amigo que
sofre de uma incapacidade visual que é alvo de chacota por parte de alguns jovens
cada vez que vai na rua. Este particular comportamento também acontece com os
idosos, infelizmente. Não há uma educação cultural que permita encarar o outro
como um ser igual. É ignóbil. Mas infelizmente não são só os jovens que o
fazem.
O mesmo acontece nos supermercados em que existe uma caixa própria para
deficientes, e no caso dos deficientes motores é essencial, não porque permite
"passar à frente" mas porque é a única que tem largura
suficiente para a cadeira de rodas passar. E o que acontece? Está sempre
ocupada ou fechada. E no meu caso, sempre que me perguntam porque não me dirijo
à caixa prioritária, respondo sempre o mesmo, já fui suficientemente humilhada
por clientes"normais" que ficam demasiado incomodados por
serem chamados à atenção para querer passar por isso mais uma vez.
E as casas de banho? As de deficientes ou estão fechadas ou normalmente
ocupadas por quem não necessita delas. E para nós que não
controlamos as necessidades fisiológicas basta por vezes um instante para
que fiquemos num estado em que nos sentimos de facto humilhados e
vencidos...
As filas nas entidades publicas, os balcões altos, a
inacessibilidade às prateleiras dos supermercados, a falta de civismo por parte
do publico, todos estes factores acabam por ser desmotivadores para quem de
facto tem dificuldades acrescidas na vivência do dia-a-dia.
E o que dizer ao isolamento social, ao estigma, à solidão?
Cada vez que não se adapta um edifício publico, cada vez que se estaciona
em cima de um passeio ou no lugar destinado às pessoas com deficiência, cada
vez que se impede a colocação de um elevador, uma plataforma elevatória ou uma
rampa num edifício de habitação, cada vez que se “planta” um pino de cimento ou
de metal no meio de um passeio, ou se coloca indiscriminadamente o mobiliário
urbano estão a condenar um ser humano a uma prisão injusta e discriminatória,
apenas e só porque este cidadão é portador de uma incapacidade ou de uma
deficiência.
A não existência de transportes publicos adaptados criam uma barreira
intransponível para quem tem mobilidade reduzida.
E quem vive no interior do pais, ou nas zonas suburbanas das grandes
cidades, nas aldeias, nos lugares, sente ainda mais o peso do isolamento e da
clausura.
Eu senti todas estas dificuldades. Todos os dias as sinto. Para além de ter
de ultrapassar a dor da perda de mobilidade, tive que reaprender a viver numa
sociedade e num mundo que não está preparado para quem é diferente. E todos os
dias “salto” barreiras e supero limites. Como todos as outras pessoas diferentes.
Manuela Ralha
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