Escolher o companheiro de viagem certo e um planejamento detalhado ajudam o turista com deficiência a superar obstáculos. Nosso repórter descobriu facilidades e falhas no acesso a pontos turísticos e constatou que não é preciso ver para curtir a Europa
A gravação de uma voz feminina anuncia pelo sistema de alto-falantes, enquanto o trem diminui a velocidade: “Esta estação tem acessos sem degraus”. A estação é King’s Cross St. Pancras em Londres, uma das mais movimentadas do mundo. E o anúncio, que deveria ser regra, é exceção. Em meio ao esforço da capital britânica para se modernizar a tempo de receber as Olimpíadas do ano que vem, a cidade encara um desafio – compartilhado com toda a Europa: tornar acessível a todos seu transporte público sesquicentenário e sua arquitetura milenar.
O continente conhecido pelos extensos benefícios sociais e pela preocupação com os direitos humanos ainda tem uma série de barreiras ao turismo de pessoas com deficiência. A culpa, neste caso, é da história. Igrejas, castelos, ruelas e museus são os mais belos do mundo, mas foram construídos em uma época em que a palavra “acessibilidade” sequer fazia parte do vocabulário vigente.
Hoje, embora a União Europeia encampe um esforço coletivo para adaptar a infraestrutura turística, muito ainda precisa ser feito. Um estudo da Comissão Europeia apontou o transporte urbano e edifícios públicos como os maiores obstáculos a pessoas com deficiência. A pesquisa, feita em sete países, colocou Áustria e Noruega nos primeiros lugares do ranking da acessibilidade. Em último ficou a Itália, com Reino Unido e Espanha a meio caminho.
Não há, contudo, razões suficientes para o turista com alguma deficiência física desistir de viajar para o Velho Continente. Se este for o seu caso, escolha o companheiro de viagem certo (acredite, você precisará dele), planeje o roteiro com antecedência e tenha muita paciência todas as vezes em que alguém não entender o que você precisa. Talvez você não consiga subir ao domo da Catedral de São Paulo (não há rampas de acesso para cadeirantes) para ver Londres do alto, mas poderá desfrutar, tanto quanto qualquer outra pessoa, a cultura e história europeias.
Quer descobrir como? Nesta e nas páginas aqui linkadas, o leitor encontra as experiências e recomendações – um tanto idiossincráticas – de um repórter cego que passou um mês em um périplo europeu que envolveu cinco países.
Comunicação. A todo o tempo, a pessoa com deficiência precisa perguntar, esclarecer e explicar. O europeu, como diz o senso comum, é mesmo um povo educado – e, ao contrário do que diz o senso comum, pode ser bastante solícito. Se o viajante conseguir expor suas dúvidas e necessidades, será ajudado. Isso significa que falar bem ao menos inglês é essencial. Se este não for o seu caso, considere contratar um guia local, que lidará com a maior parte das dores de cabeça por você.
Hotelaria. Nas capitais, não são raros os hotéis com quartos adaptados a cadeirantes. Entretanto, o ideal é fazer a reserva com antecedência e explicar claramente suas necessidades. Para os mochileiros, há albergues prontos para receber deficientes, mas são raros e costumam cobrar pelo conforto extra. Sites como booking.com ou hostelworld.com apontam ao viajante os hotéis e albergues acessíveis.
Nas cidades menores, encontrar um quarto adaptado é consideravelmente mais difícil. Neste caso, uma opção é fazer passeios de um dia só, voltando para passar a noite na metrópole mais próxima.
Fonte: Estadão
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