Enquanto mergulhava, passaram-se três segundos. Os suficientes para a manhã se tornar noite. De repente, a escuridão, o silêncio, um vazio inesquecível. “Nunca tinha vivido tamanha sensação de liberdade”, diz Pedro. Desde esse dia que está a aprender de novo a andar, depois de ter ficado paraplégico aos 24 anos. “A desgraça só acontece aos outros”, lembrou-se de ter pensado naquele dia. Na semana anterior, outro jovem tinha sofrido um acidente idêntico, na mesma praia. Com as mesmas consequências.
No Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, inaugurado em 1966, encontram-se pessoas de todas as idades, com lesões medulares graves, amputadas ou vítimas de AVC. Acidentes por vezes tão banais que expõem na perfeição a linha entre duas vidas: a normal e a outra. Sendo que aqui aprendem a ver a sua como a normal.
“É como nascer de novo”, refere Pedro, internado há três meses. Enquanto exercita na sala de fisioterapia os primeiros passos, sonha com o dia em que não precisará mais da cadeira de rodas. Outros tentam falar de novo, ou conseguir coisas tão banais como apertar um botão da camisa. Cada conquista é uma pequena vitória. Em Alcoitão é proibido perder a esperança. Aqui não existe lugar para sonhos desfeitos ou vidas perdidas. Há, sim, espaço para a mudança e para reaprender a viver. Com uma capacidade para 500 utentes, entre internamento e ambulatório, o centro é unanimemente reconhecido como uma das melhores instituições na área da medicina de reabilitação no mundo.
Em cada corredor, em cada sala de terapia, inúmeras histórias de vida, cada uma com a sua mensagem, que tocam e atropelam consciências. Mas depois de todos terem feito para si próprios a mesma pergunta – porquê eu? –, nenhum admite desistir. Com um sorriso estampado na cara, Pedro garante: “Tristeza vou ter quando sair daqui.”
Fonte: i
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