Aninha sonha em se casar. Márcio quer voar e Stallone quer ver o mar. São esses os simples desejos que movem os personagens do filme “Colegas”, no melhor estilo road movie (filme de estrada). O longa-metragem, ainda em fase de finalização, traz muitas surpresas dentro e fora da tela, com três atores com síndrome de Down como protagonistas e produção executiva de uma pessoa com deficiência visual.
A ideia original e o roteiro para o filme surgiram do diretor Marcelo Galvão, em 2006. “Tenho um tio chamado Márcio que tem síndrome de Down e, por isso, sempre fui fascinado pela forma como essas pessoas veem o mundo”, diz Galvão que, em algumas situações da obra, acrescentou detalhes da vida do tio. Além das referências ao parente, a criação do diretor está cheia de momentos que aludem aos filmes independentes americanos, como o sucesso “Little Miss Sunshine”.
Com a ideia na cabeça, Galvão em parceria com o produtor executivo Marçal Souza foi à luta para viabilizar o filme. “A maior dificuldade é arranjar patrocinadores. Mesmo a temática de inclusão não ajudou a sensibilizar os investidores. Alguns até duvidam que alguém assista a um longa com protagonistas com síndrome de Down”, conta Souza, que começou sua carreira no cinema em 1976 e ficou cego há quatro anos. Apesar disso, nunca desistiu da atividade e continua trabalhando em diversos projetos da produtora Gatacine.
Após alguns anos trabalhando no roteiro e tentando captar recursos para a película, que ainda precisa de patrocinadores para ser finalizada, as primeiras gravações finalmente começaram no dia 24 de julho de 2010. Os atores recrutados para viver a aventura cinematográfica são Ariel Goldenberg, 29 anos, Rita Pokk, 30, e Breno Viola, também com 30 anos. Ariel e Rita – que são casados há sete anos – foram os primeiros a entrar no projeto e, desde 2008, vêm praticando interpretação sob a supervisão do diretor. “Nessas sessões praticávamos o improviso e incorporávamos o personagem”, conta Ariel, que já teve várias experiências como ator. Rita relembra que em algumas cenas ela precisava chorar. Um feito difícil para qualquer ator. “Neste ponto, a ajuda do Marcelo foi muito importante, pois ele me ensinou como usar minhas emoções mais tristes para chorar”, explica.
Breno participou de uma seleção em 2009 e logo passou a fazer parte do elenco. Ele já tinha atuado em duas peças de teatro amador e aceitou o desafio de participar de um longa-metragem. “Não é fácil decorar o texto, mas atuar também não é só isso. É interpretar e saber usar as emoções”, conta. Além de ator, Breno se destaca por ser palestrante e o único faixa-preta de Judô do Brasil com síndrome de Down.
Mesmo faltando poucas cenas para serem gravadas, o produtor e o diretor elogiaram o trabalho dos atores. “Eles são muito calorosos e profissionais. E são cobrados como qualquer um para cumprir horários e posturas”, diz Souza. Já Galvão reforça o empenho do trio: “Foi um trabalho pesado, realizado dia e noite. Eles realmente têm muita força para se superarem”. O filme conta ainda com a narração do ator Lima Duarte e participações de Marco Luque e Juliana Didone. Não existe previsão para a estreia no cinema, mas a expectativa é que a obra seja lançada no segundo semestre de 2011.
Fonte: Revista Sentidos
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