segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Usabilidade e acessibilidade dos maiores museus portugueses online


Está tudo na Web: jornais, televisões, bancos, escolas e serviços públicos. Museus também. E porque a existência virtual, e a qualidade dela, conta cada vez mais para o sucesso das instituições, quisemos apurar a qualidade dos sites museológicos em Portugal.
Um conjunto de webdesigners contatados aceitou o desafio de analisar e classificar ossites dos museus mais visitados e representativos do país. A decisão é quase unânime: o portal do portuense Museu de Serralves – incluído no site da Fundação de Serralves – é o melhor. Ivo Gomes, consultor de usabilidade na empresa Log, destaca a “boa navegabilidade” e a “visita virtual ao parque de Serralves e à coleção do museu”. Gomes dá ainda nota muito positiva a todos os conteúdos do site.
A escolha do Museu de Serralves não surpreende. O investimento feito pela fundação na sua presença online tem sido contínuo e, de acordo com o diretor do Museu, João Fernandes, “surgiu quase como um imperativo”: “Há cerca de dois anos, antes da remodelação do site, dificilmente Serralves seria agora apontado como o melhor exemplo”, disse Fernandes ao Digital. Isto porque “nessa altura, a página não refletia aquilo que era o Museu e a Fundação”.
Certo é que, atualmente, Serralves leva vantagem sobre os outros museus na Web. Carlos Moreira, webdesigner a trabalhar na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), diz que o portal “é o único da lista que realmente se destaca, principalmente pelo seu design”.
E Paulo Barbosa, da empresa VisualWork, considera o site “muito apelativo visualmente pela forma como toda a informação está organizada, dando ao utilizador a sensação de espaço, de modernidade e funcionalidade”. O especialista destaca ainda a qualidade da loja online e diz que “de todos os sites visitados, [o de Serralves] é aquele que melhor adequa a imagem do museu à sua versão online”.
A imagem, essa, é de modernidade e contemporaneidade, afirma o diretor do museu. João Fernandes afirma que, com a recente disponibilização integral da coleção permanente do Museu de Serralves na Internet, “o número de visitas aumentou de tal maneira que chegou a levantar problemas técnicos e levou ao congestionamento da página”.
Fernandes considera, contudo, que Serralves está ainda “na infância da arte”. Porque, lembra, um museu deve ser um organismo vivo e não deve limitar-se a apresentar exposições e receber visitantes. Em Serralves, o futuro passa por “fazer do site um local de reflexão, de publicação de documentos e de interação entre utilizadores”.
Símbolos de acessibilidade enganadores
Nem só de bons conteúdos e designs aprumados se faz um bom site. Foi por isso que um dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, Carlos Moreira, resolveu ir avalidator.w3.org e testar a veracidade do símbolo de acessibilidade w3C (tecnologia que desenvolve padrões para a criação e a interpretação dos conteúdos para a Web) presente nalguns dos sites analisados.
Os resultados não são animadores: entre os cinco portais que exibem o símbolo na página, apenas o Museu Monográfico de Conímbriga cumpre todos os pontos do protocolo.
Como este, há, de facto, vários problemas por resolver nos sites dos museus portugueses, especialmente nos tutelados pelo IMC. E apesar de ter sido recentemente criada uma nova plataforma que já alberga as novas páginas Web de algumas instituições nacionais, há ainda “um longo caminho pela frente para estarem ao nível dos sites de referência internacionais”, vaticina o especialista Paulo Barbosa.
Com raras exceções, essencialmente verificadas nas páginas de Serralves e da Coleção Berardo, quase nenhum museu recorre a componentes multimídia para apresentar de forma mais intercativa as suas coleções. Barbosa critica a ausência de vídeo, áudio e da interatividade em Flash nas páginas portuguesas, uma vez que “são elementos que dão uma dinâmica muito grande aos sites”.
Do IMC, uma das responsáveis pelos projetos online, Amélia Fernandes, disse ao Digital que “há planos para a renovação de vários sites” e garante que a entidade está ciente da atual importância da Web: “Apesar de não termos feito qualquer estudo nesse sentido, acreditamos que um bom site na Internet conduz naturalmente a que os museus tenham um maior número de visitantes.”
Conimbriga fecha top 3
Para os museus, a imagem transmitida na Web pode ser decisiva para uma eventual posterior visita à instituição. Todavia, ao contrário do que poderia pensar-se ao olhar para a lista de museus nacionais públicos mais visitados – liderada em 2007 pelo Museu dos Coches (222.349 visitantes) e pelo Museu Nacional de Arqueologia (130.104) – é o Museu Monográfico de Conimbriga que, de acordo com os especialistas, tem o melhor site entre os museus tutelados pelo Instituto de Museus e Conservação (IMC).
O portal do Museu Monográfico, terceira instituição mais frequentada no ano passado entre as administradas pelo IMC, com 119.592 visitantes, aparece igualmente na terceira posição no ranking (ver tabela), logo depois de Serralves e do Museu Coleção Berardo.
Joana Carravilla, da Seara.com, realça a usabilidade e funcionalidade do site: “Nota-se que foi um site feito a pensar no utilizador e com intenção de passar informação.” A simplicidade pode às vezes ser o melhor caminho e, no caso de Conimbriga, a aposta numa homepage “muito simples, com entrada para todas as áreas”, beneficia o site. Há, no entanto alguns erros. Ivo Gomes nota que os links existentes ao longo das várias páginas não são facilmente distinguíveis do resto do texto e discorda ainda da estrutura dos menus. Ainda assim, ao nível dos conteúdos, “o site merece nota oito, numa escala de zero a dez”.
Mas, se o portal do Museu Monográfico não sai mal na fotografia, outros há que são bastante sofríveis. O do Museu Nacional do Azulejo (Lisboa) cota-se como a pior página oficial de um museu entre as avaliadas – o Museu Virtual da Imprensa é efetivamente o último, mas já lá vamos.
Para começar, o Museu do Azulejo tem como janela principal do site um “pop up”, prática nada usual e criticada unanimemente pelos especialistas, uma vez que “limita a área visível do site, retira o controlo ao utilizador e pode ser bloqueada pelos browsersmais recentes com proteção anti-popup”, explica Ivo Gomes. O consultor da Log não encontra nenhuma virtude no site e classifica como “muito má” a navegabilidade do portal, prejudicada por um sistema de scroll que funciona através de pequenos botões nada intuitivos.
A diretora do Museu Nacional do Azulejo, Fátima Loureiro, argumenta que o site da instituição está enquadrado num modelo imposto pelo IMC: “Se não o renovámos foi porque não pudemos. Há muito que sentimos que devíamos melhorar o nosso site mas é esta a norma que temos..”. Fátima Loureiro conta que, até há bem pouco tempo, a administração do museu nem sequer tinha acesso ao back office do site e era por isso que a informação estava muitas vezes desatualizada. “Já pedimos que nos dessem autorização, que implica um orçamento, para mudarmos para uma estrutura mais apelativa. Temos gente competente e capaz de nos ajudar nessa tarefa”, conclui a responsável.
O título de pior de todos os portais online cabe, de acordo com as avaliações, ao Museu Virtual da Imprensa. Porém – e apesar de se apresentar como “projeto da Associação Museu da Imprensa” – o site “não é a página oficial do Museu”, explica o diretor do organismo, Luís Humberto Marques. Mas a verdade é que aquela é a ‘cara’ do museu na Internet, reconhecida pela instituição e com contributos de funcionários do próprio museu.
De acordo com a análise do webdesigner Carlos Moreira, a página “tem graves carências ao nível do webdesign”, e trata-se de um siteque reprovaria redondamente em qualquer teste de usabilidade e acessibilidade.
O diretor do museu conta que quando o site foi lançado, em 1997, chegou a ser considerado por uma revista internacional de tecnologia como “um dos dez melhores no ramo dos museus”. Só que dez anos, na Internet, são uma eternidade, e Luís Humberto Marques reconhece que a estrutura inicial do portal nunca foi alterada.
“Admitimos que por vezes nem há sequer uma boa coerência entre os vários elementos colocados na página”, diz. Marques fala de “recursos limitadíssimos” e de um projeto em marcha para a criação da página oficial do Museu Nacional da Imprensa já em 2008: “Temos a noção que já era tempo de remodelarmos a nossa presença na Internet. Sabemos que perdemos o passo, mas vamos recuperá-lo.



Fonte: Publico

Sem comentários:

Enviar um comentário